Ouro Preto – A trena desliza suavemente ao longo da parede de pedra que guarda, em mais de dois séculos, marcas do convívio familiar, de histórias da cidade e da arquitetura da antiga Vila Rica. Conferida a metragem da fachada, a equipe pede licença e entra no sobrado da Rua Santa Efigênia, no Bairro Antônio Dias, no Centro Histórico. Está na hora de verificar as condições da madeira do telhado, do piso de todos os cômodos e da estrutura da casa. Nos últimos dois meses, num sobe e desce escada diário, essa vem sendo a rotina dos estudantes que atuam na elaboração de projetos de restauração, gratuitos, para 20 residências de valor cultural de Ouro Preto, na Região Central, a 95 quilômetros de BH. O programa, pioneiro no país, é fruto da parceria entre a Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), vinculada ao sistema estadual de cultura, e o Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG, ex-Cefet).
Na entrada do sobrado pintado de verde e branco, a dona de casa Elizabeth da Silva Gualberto se mostra satisfeita com os levantamentos técnicos feitos pela turma, que reúne 10 alunos do curso superior de tecnologia em restauração do IFMG e cinco do Núcleo de Ofícios da Faop, a qual mantém um laboratório específico para dar suporte ao programa. Ao lado da mãe, Maria Pia, de 68, e dos três filhos, ela afirma que jamais teria condições de pagar por um projeto para recuperar o patrimônio de herdeiros: “Esse é um bem que vai ficar para os meus filhos. Por isso, temos que dar um jeito de preservar a casa, pois tem muita madeira podre, é perigoso”.
Assim como os demais beneficiados pelo programa, que leva em conta critérios como renda per capita, valor cultural do imóvel e estado de conservação, Elizabeth vai receber a planta aprovada pela prefeitura e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo tombamento de Ouro Preto há 71 anos. "A partir daí, vamos tentar arrumar os recursos para a obra", diz a dona de casa, com esperança. Segundo a coordenadora do Laboratório de Restauração, arquiteta Cristina Simão, o trabalho, patrocinado pela empresa Novelis, contempla aqueles que não teriam como pagar um projeto de restauração e executar as obras nas residências dos séculos 18 e 19, tão importantes no cenário da cidade, dona do título de patrimônio da humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Gustavo Werneck - Estado de Minas
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